Yom Kippur (Dia do perdão)
Por
Rab. Mess. Marcelo M. Guimarães
Nesta
época (início do outono – Israel ou primavera – Brasil), os judeus do mundo
comemoram a sequência de festas típicas da estação de outono: o Rosh Hashanah
(também conhecido como festa das trombetas), os 10 dias de Arrependimento (cujo
último dia é conhecido como Yom Kippur, o dia do Perdão) e a Festa dos
Tabernáculos ou festa da colheita (Sucôt).
Qual
é a origem desses dez dias de arrependimento?
Em
Levítico 23:24, encontramos uma ordem: “…No sétimo mês, ao primeiro dia do mês,
tereis descanso solene, um memorial ao som da trombeta, uma santa convocação”.
Após o exílio Babilônico, este dia do “soar da trombeta” tornou-se conhecido
como Rosh Hashanah, o Ano Novo Judaico. Na Torá, tudo o que conhecemos é que é
um dia de “fazer tocar as trombetas”. No livro de Salmos, encontramos
referências interessantes (Salmo 81.3) “Tocai a trombeta na lua nova, na lua
cheia, no dia da nossa festa”. Nesse Salmo encontramos o tocar da trombeta
(Shofar, que é um chifre de carneiro) na lua nova, que é a primeira do mês, é também
chamada “o dia de nossa festa”. O Salmo 81 traz à luz um outro aspecto
tradicional dessa festa. De acordo com a tradição desse dia, Rosh Hashanah, que
é o primeiro dia do sétimo mês, é também um dia que coroamos Deus como Rei de
nossas vidas e da vida da nação. Entre o Rosh Hashanah, que é o primeiro dia do
sétimo mês, e o dia da expiação (Yom Kippur), que é o décimo dia do sétimo mês,
há um período de dez dias separados para o arrependimento e perdão dos pecados
de Israel. Esses dez dias são como um período especial onde as pessoas se
tornam mais cerimoniais e contemplativas acerca de seus pecados, num nível
coletivo-nacional. Deus concedeu um dia para expiação dos pecados da nação. O
bode expiatório que era enviado ao deserto era uma prefiguração do trabalho de
Yeshua (Jesus) o Messias, que morreu na cruz pelos pecados do mundo inteiro.
Por causa da solenidade que traz esse dia, tornou-se tradição tomar dez dias
entre os dois dias santos para contemplação e arrependimento.
Os
judeus, de modo geral, levantam bem cedo, antes do nascer do sol, e recitam
orações e cânticos de arrependimento que expressam a profunda tristeza que cada
indivíduo e toda coletividade tem pela fraqueza e pelos pecados que eles
cometeram.
Não
há nenhuma outra nação que gaste dez dias meditando acerca da expiação e perdão
dos pecados como a nação de Israel.
No
dia da expiação quase todo Israel e a comunidade judaica ao redor do mundo
jejua. Ninguém come ou bebe, por um período de 24 (vinte e quatro) horas. Cada
pessoa, que não esteja doente ou grávida, ou seja maior de doze anos jejua,
abstém-se de comida e bebida por 24 (vinte e quatro) horas, isto aumenta a
seriedade do dia no qual você contempla seus pecados e fraquezas. Os cultos nas
Sinagogas geralmente acontecem na noite anterior, normalmente pela manhã bem
cedo, e o último às 18:30 deste dia. Muitas pessoas permanecem na Sinagoga por
10 (dez) horas, para orar e suplicar a Deus pelo perdão do pecados.
A
consciência de pecado ensinada pelo Rabino Shaul (Paulo) está
provavelmente influenciada pelas orações do dia da expiação. Passagens como
Romanos 7:24 “Desventurado homem que sou? Quem me livrará do corpo desta
morte?”, podem estar influenciados pelas confissões do dia da expiação, que
repetidamente enfatizam a fraqueza e a vulnerabilidade do homem.
Há
um interessante comentário feito por Ibn Ezra, um comentarista bíblico judeu
medieval, a respeito de Levítico 16.9-10. Ibn Ezra fixa seu comentário em
Levítico 16.9: “Se você deseja conhecer o mistério do bode expiatório deve
conhecer primeiro quem morreu na idade de 33 (trinta e três)…”. Não foi ele
quem elaborou este ponto. Um comentarista posterior, um dos mais famosos
Rabinos Judeus da era de ouro, do exílio espanhol, rabino Moshê Ben-Nachman,
afirma neste verso: “Eu digo que o Rabino Abraham Ibn Ezra quis dizer, “a idade
de 33…”: Esaú e o Reino de Edom”. Na terminologia judaica medieval, Esaú é
Yeshua, e o Reino de Edom é o Império Romano. Assim, o Rabino Moshê identifica
a pessoa de quem o Rabino Ibn Ezra estava falando como sendo Yeshua. Yeshua é o
bode expiatório que leva os pecados de Israel sobre si no dia da expiação. É
interessante ver rabinos que identificam o bode expiatório como Yeshua e ainda
não acreditam n’Ele. A razão pela qual esses rabinos são capazes disso é porque
eles viviam sobre a impressão errada que cristianismo é para gentios e não para
Judeus.
A
política da igreja católica em relação ao povo judeu apenas reforçou essa ideia
errada. Yeshua, (Jesus) veio em primeiro lugar para o povo de Israel. Os
cristãos têm a responsabilidade de orar pelas boas novas para o povo judeu, se
não por outra razão, pelo fato de que eles receberam as boas novas dos judeus.
Qual
é a aplicação disso tudo para os seguidores de Yeshua o Messias?
“Consciência
de pecado” é talvez o tema mais pregado nos púlpitos das igrejas ocidentais. Arrependimento
é certamente o maior princípio de todas as religiões bíblicas. Os cristãos frequentemente
pensam que são proprietários de confissões e arrependimentos, por fé e graça.
A
verdade é que tanto no judaísmo quanto no islamismo, há sustentação de uma
forte crença para o arrependimento. Há coisas que podemos aprender do judaísmo
nos 10 dias de arrependimento.
1-
Estabelecer um tempo para meditar acerca de seu “status” com Deus, sua
necessidade de arrependimento e deixar que este tempo seja oportuno para se
fazer um esforço concentrado.
2-
Durante esse tempo separado para arrependimento, você deve levantar-se bem cedo
e começar seus dias com uma confissão de pecados.
3-
Há itens que exigem um arrependimento coletivo e, consequentemente, devem
envolver toda comunidade no processo de arrependimento.
4-
Embora o arrependimento seja de responsabilidade individual, é importante que
as pessoas façam isto juntas, estabelecendo um tempo especial para isso.
Há
algumas pessoas que desprezam essa idéia e dizem que devemos nos arrepender
diariamente e instantaneamente quando nos surpreendemos em pecado. Mas, a
verdade é que há muitos pecados que cometemos inadvertidamente e, sem ter
consciência deles. Nós precisamos gastar tempo em nos concentrar como a
comunidade judaica faz nos dez dias de arrependimento.
Para
o povo Judeu que não acredita em Yeshua, o processo de arrependimento é
complicado pelo fato de que há muitos textos bíblicos que são lidos os cultos
do dia da expiação que mencionam a necessidade de sangue e sacrifício para a
perdão de pecados. Aqueles que acreditam em Yeshua, o Messias, sabem que o
sangue de bodes e touros não mais corre no altar para expiar os pecados de
Israel, mas o sangue derramado por Yeshua por nossas transgressões está ainda
disponível para expiar e perdoar e redimir os judeus de seus pecados. Minha
oração neste ano é que durante estes dez dias de arrependimento o Senhor
revelará ao Seu povo amado já proveu o cordeiro para expiação dos pecados.
Por outro lado, minha oração é também para que o mundo cristão gaste tempo
e avalie seus erros e pecados coletivos e individuais cometidos, e gaste mais
tempo ainda reaplicando o sangue de Yeshua que está ainda fresco e não seco, capaz
de perdoar os pecados da humanidade.
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